Uma experiencia de amamentação menos positiva…
- Catarina Claudino
- 29 de jul. de 2018
- 5 min de leitura

Hoje trago-vos uma partilha muito pessoal…porque a amamentação nem sempre é positiva, mas que muitas mulheres vivem no silêncio, com medo de serem julgadas. Esta minha experiência fez-me mudar muito a maneira de pensar e a deixar de julgar as mulheres que optam por não amamentar, porque o equilíbrio mental de uma recém mamã é tão mais poderoso que tudo o resto.
Passei 4 anos do meu curso de Nutrição a ouvir falar dos benefícios da amamentação, e durante os 8 meses de gravidez tudo foi reforçado, para além da tão falada ligação maravilhosa que se estabelece entre a mãe e o bebé. Pois claro, a minha decisão era amamentar e para mim um beberão de leite artificial era sinónimo de obesidade, pior desenvolvimento físico e mental e alergias ou dificuldades na introdução alimentar.
Durante a minha gravidez de gémeos não fui alertada grandemente para a dificuldade que seria amamentar... apenas me diziam que a produção de leite responderia às necessidades duplas.
Com uma cesariana antecipada às 35 semanas, com duas bebés prematuras e em que uma foi desde logo separada de mim para ir para os cuidados intensivos neonatais, todo o cenário que previa se desmoronou… A princesa M que ficou comigo foi pouco tempo depois de ter nascido colocada ao meu peito para tentar mamar… não sabia, tudo era desproporcional em termos de tamanho (mini boca para um mamilo imenso!).
Durante a noite, os poucos movimentos que ela fazia no berço num simples abano acamavam e ninguém durante a noite teve a sensibilidade de vir ter comigo para novamente tentar amamentar…e eu mãe de primeira viagem, sem saber se seria isto normal.
Escusado dizer que não vi a princesa L até ao dia seguinte, por isso o que ela recebeu primeiramente foi leite artificial.
Na visita matinal, a princesa M estava com hipoglicemia (açúcar no sangue abaixo do normal), pelo que recebi um ultimato da enfermeira, ou ela mamava e subia o valor ou tinha de lhe dar biberão de leite artificial. As lágrimas foram imediatas…tudo o que tinha imaginado, a felicidade de amamentar, nada disso estava a acontecer. E biberão lá foi. Fui aconselhada a tirar leite com uma bomba eléctrica, para estimular e tentar dar à irmã, mas apenas saiam umas gotas, que meramente sujavam as paredes do biberão.
Passei 15 dias na maternidade, entre subidas e descidas aos cuidados neonatais, tentativas de dar de mamar, com e sem bico de silicone, sempre completadas com o biberão e retiradas com a bomba. No meio de tudo, com medicação, pois com tanto estímulo e pouca eficácia na extração do leite, a subida do leite foi muito dolorosa e não ia com paninhos quentes nem gelo. Muita pressão com a necessidade de ganho de peso delas e sabendo que só saíamos da Maternidade quando a mais pequena atingisse perto dos 2Kg, abdiquei praticamente de dar de mamar e dava-lhe os biberões com leite artificial.
Quando cheguei a casa, já quase não tinha leite. Tinha duas hipóteses, ou me dedicava a aumentar a produção ou deixava de vez. Com tudo o que sabia, atirei-me de cabeça. Desisti praticamente de lhes dar de mamar (com tanto biberão de leite, apenas mamavam a primeira jorrada de leite que não era preciso se esforçarem, depois recusavam-se a fazer o esforço, esperneavam, choravam, mordam-me e eu exausta com tudo o que envolve as rotinas de duas gémeas prematuras a chegar a casa, desesperava e pensava, que raio de ligação bonita que falavam é esta!? No nosso caso, só nos magoávamos umas às outras).
Passei a retirar religiosamente de 2 ou de 3 em 3 horas, de dia e de noite o leite com uma bomba elétrica. Estava 1 hora a retirar o leite (fazia 3 voltas em cada peito, pois quando achamos que não há mais, a alternância faz ainda estimular mais). Tomei também o Promil, um suplemento natural à base de cardo mariano, que também me ajudou (nem que fosse como placebo!). E a produção de leite veio! Tive várias etapas com mais e menos leite, tive fases em que não precisei de leite artificial e cheguei a ter 2 gavetas cheias de doses de leite congelado! Contra todas as expetativas e opiniões de várias pessoas e médicos, eu mesmo sem ter o contato das minhas filhas a mamar no peito, tive a produção de leite que quis, até querer, porque a nossa mente é mais poderosa do que tudo.
Não falhei nunca estes timings, tratar das duas, tirar leite, tudo se seguia, sem intervalos quando estava sozinha. Quando todos dormiam em casa de noite, eu levantava-me na mesma, de 3 em 3 horas para tirar leite, a dormir em frente a inúmeras sérias televisivas, a comer e a adormecer em pé, a partir taças inclusive. Foi um ano e meio a dormir 4 horas por noite, e com o início de um trabalho novo pelo meio.
Tive um apoio imenso e quase desumano da pessoa que está ao meu lado, pois assumia muitas tarefas que podíamos partilhar para eu estar a tirar leite. Inclusive deixei de dar colo e mimar as minhas filhas por estar nesta tarefa. Ele aceitou a minha teimosia, mesmo sendo contra, pois estava a destruir-me a mim, a ele e a nós.
Sempre que ia a algum lado levava a bomba, cheguei a negar ir a determinados sítios porque não poderia tirar leite. Cheguei ao cúmulo de ir passar um dia num centro comercial e a tirar leite no piso de cima dos sanitários, reservado para mim, sentada no chão. Pelo meio tive duas mastites também, mas nada me fez parar.
Ao fim de um ano e meio e perante tanta insistência em deixar de tirar leite pelas pessoas próximas e num derradeiro acontecimento da bomba ter avariado e ter ficado uma dolorosa noite sem o fazer, comecei a espaçar as retiradas de leite, para diminuir a produção. Ironia do destino, se de início não estava a conseguir produzir leite, para o deixar, e não querendo tomar medicação tive de fazer um esquema de redução até desaparecer.
Se me arrependo do que fiz? Tenho a consciência de que fiz o melhor que podia para as minhas filhas…mas será que justificou o que passei e fiz passar as pessoas que me rodeiam? Ainda hoje me arrepio ao pensar no barulho que a bomba fazia. A simples ideia de repetir me dá calafrios. Provavelmente hipotequei a hipótese de ter mas algum filho, porque foi uma fase extremamente traumática para todos.
Por isso e não sabendo o futuro, refiro que não voltaria a cometer um erro destes. Não justifica, porque o bem-estar físico e mental da família será o mais importante. Se não estamos bem, os nossos filhos sentem também e estar com eles e viver as suas fases de crescimento que são únicas, são mais importantes que qualquer que seja o leite que se dá.
Tentem sempre claro, mas com equilibro e não julguem quem não o faz. Felizmente, para a maioria, a amamentação foi, é e será uma experiencia maravilhosa! Acima de tudo não coloquem demasiada pressão em cima de vós e deixem as coisas fluir com naturalidade.

PS – este foi um testemunho que sempre desejei fazer, foram precisos 4 anos e meio para ter esta coragem, maturidade e discernimento para o escrever, sem medos.

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